Abate humanitário e insensibilização em bovinos na perspectiva da medicina veterinária legal: Revisão
DOI:
https://doi.org/10.31533/pubvet.v13n3a285.1-14Palavras-chave:
abatedouro, bem-estar animal, bovinocultura, medicina veterinária forense, períciaResumo
Esta revisão tem o objetivo discutir sobre os principais pontos críticos do abate humanitário de bovinos com enfoques necessários para auditorias e fundamentalmente na elaboração de um laudo pericial. A produção brasileira de carne bovina tem grande importância no agronegócio, com destaque nacional e internacional. Nos últimos anos está cada vez mais crescente a preocupação da população com relação ao bem-estar dos animais de produção, fazendo valer o investimento na pesquisa científica e a educação humanitária em todos os segmentos das cadeias de produção. Nas décadas passadas o abate de animais de produção vinha sendo considerado um procedimento tecnológico de grau científico inferior, não compondo um assunto estudado por universidades, institutos de pesquisa e indústria. Posteriormente, este tema ganhou importância quando ficou evidente a influência da qualidade da carne e seus produtos no comércio nacional e internacional. Após as evidentes influências da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e da Sociedade Humanitária Internacional (HSI) ganhou grande destaque pela demanda de produtos de origem de animais criados, manejados, transportados e abatidos através do uso de práticas humanitárias. Devendo-se considerar que bem-estar animal não corresponde obrigatoriamente em qualidade sanitária, mas sim uma preocupação ética e moral dos consumidores. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Brasil (MAPA) prevê que até 2020 a produção brasileira de carnes deverá fornecer 44,5% do mercado mundial, sendo este o grande desafio do Brasil para manter medidas efetivas de abate humanitário e liderar como exportador mundial de carnes bovina. Abater os animais em condições humanitárias é um dever moral do homem e cada país deve estabelecer regulamentos rígidos com objetivo de garantir esta condição para todas as espécies. Os métodos convencionais de abate de bovinos envolvem a operação de insensibilização prévia da realização da sangria, exceto os abates conduzidos de acordo com os rituais judaicos ou islâmicos. As ações das auditorias e a medicina veterinária legal têm importante contribuição no balizamento das questões judiciais e éticas neste processo. Para tanto, se torna necessário o investimento em estudos e discussões no aperfeiçoamento neste importante tema para utilização nas auditorias e na definição de um protocolo pericial direcionado ao abate humanitário.
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