Intoxicação acidental por ureia em novilha: Relato de caso
DOI:
https://doi.org/10.31533/pubvet.v17n11e1482Palavras-chave:
Ácido acético, amônia, Bovinos, rúmenResumo
A produção de bovinos no Brasil em sistema extensivo promoveu aumento na utilização de ureia dietética, devido à baixos teores de proteína e menor degradabilidade do pasto na época de seca. Esta estratégia consiste no fornecimento de nitrogênio não proteico com equivalência proteica de 281% com baixo valor de aquisição. A produção de proteína microbiana e degradação ruminal possui sinergia com a quantidade de substrato proteico e cadeia de carbonos provenientes da dieta. No entanto, ureia em grande quantidade é prejudicial para o metabolismo animal, devido a altas concentrações de amônia, aumentando o pH do rúmen. Os sinais clínicos da intoxicação são variáveis, em casos agudos ocorre óbito do animal. Este trabalho relata uma intoxicação acidental por ureia em novilha atendida na Clínica Escola da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, apresentando sintomatologia nervosa, com mioclonia, tetania, espasmos, prostração, ataxia seguido de queda ao chão e crise convulsiva. Na anamnese foi relatada a administração errônea de uma dieta contendo ureia, por fim foi coletado conteúdo ruminal evidenciando o pH de aproximadamente 9 através da medição por fita colorimétrica. O diagnóstico foi baseado na anamnese, sinais clínicos e resultado da análise de pH, resultando em alcalose por intoxicação por ureia. O tratamento proposto continha vinagre (ácido acético), ringer com lactato, gluconato de cálcio e magnésio. Após o tratamento, os sinais clínicos reduziram e o animal conseguiu se posicionar em decúbito esternal. No dia posterior, as alterações já não foram observadas, evidenciando o tratamento eficaz. O fornecimento de ureia é uma boa estratégia nutricional para suplementação, porém deve ser realizada a adaptação à dieta, visto que a ureia se torna amônia no rúmen sendo que em altas concentrações são tóxicas para os ruminantes.
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