Esporotricose felina: Sinais clínicos e prevenção em animais e humanos
DOI:
https://doi.org/10.31533/pubvet.v18n05e1591Palavras-chave:
Extrato tímico, medicina felina, saúde pública, timomodulinaResumo
A esporotricose é uma micose causada pelo fungo Sporothrix sp presente em plantas, árvores e no solo, associado aos restos vegetais em decomposição. A doença pode acometer diversas espécies, especialmente a felina, que por sua vez é a principal transmissora da esporotricose para humanos. A infecção pelo Sporothrix sp decorre do contato entre a pele lesionada com superfícies contaminadas pelo fungo, arranhadura ou mordedura de animais doentes. Além da manifestação cutânea, a esporotricose também pode ocorrer na forma extracutânea, acometendo diversos órgãos, como pulmões, linfonodos, fígado, baço e rins. Não existe vacina preventiva para a doença e o tratamento é realizado com agentes fungistáticos sintéticos, com amplo espectro de atividade antifúngica. A esporotricose é considerada uma das micoses de maior relevância na medicina veterinária e uma zoonose subdiagnosticada, sobretudo, pela falta de iniciativas de controle e prevenção, que, consequentemente, levam à falta de informação da população. Os estados de Pernambuco, Rio de Janeiro e algumas cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais Bahia e Rio Grande do Norte e Paraíba possuem notificação compulsória dos casos. Na cidade de São Paulo, desde primeiro de dezembro de 2020, a notificação da esporotricose em cães e gatos tornou-se obrigatória. O objetivo desta revisão é ressaltar que a esporotricose é uma zoonose emergente e subdiagnosticada no Brasil. Sendo necessárias ações informativas e de divulgação à população, reforçando a importância do tratamento e a possibilidade de cura, além de medidas educativas eficazes relacionadas à programas de saúde pública para o controle da esporotricose humana e animal. Campanhas de guarda responsável, que enfatizem a importância da castração e da restrição de acesso à rua, são de suma importância para o controle epidemiológico da doença. O médico veterinário possui papel fundamental na orientação do tutor, ressaltando ao mesmo que a falta de tratamento, além de grande sofrimento ao animal acometido, pode contribuir para a disseminação da doença, inclusive para humanos.
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